Matéria-Artigos de Colecionador

O que faz com que uma velharia deixe de ser tecnologia ultrapassada para assumir o status de “item de colecionador”? Embora a indústria de games não pare de se desenvolver, abarcando novas tecnologias e expandindo seu público, existe uma parcela de jogadores que simplesmente resolveu voltar o olhar para o passado dos video games. Com eles cresceu toda uma subindustria regada a muito saudosismo, e que não poupa seus cofrinhos para expandir suas onerosas coleções.
Mas o que justificaria essa busca por aparelhos que, em teoria, foram substituídos porque algo mais avançado apareceu? Para o jornalista Marcelo Tavares, atualmente o maior colecionador de plataformas antigas do Brasil, trata-se de uma oportunidade de revisitar o passado. “Os gamers aficionados tentam resgatar um pouco da sua infância, adolescência e por isso buscam os consoles que lhes permitiram bons momentos no passado”.





Após tantos anos de existência, fato é que a indústria de games tem também hoje a sua própria história. De um sistema que deslumbrava crianças nos anos 70 e 80, hoje os consoles mais modernos abarcam comunidades de jogadores bem menos homogêneas, boa parte delas jogando há várias gerações. “A geração de gamers está envelhecendo. No Brasil a idade média do jogador está próxima de 25 anos. Nos EUA a média salta para 35 anos de idade”, afirma Tavares.
Dessa forma, para celebrar as décadas de história dos games, organizaram-se atualmente diversas comunidades online, fóruns de discussão e leilões que alcançam preços verdadeiramente estratosféricos — o Atari Cosmos, por exemplo, protótipo que nem chegou a ser lançado pela empresa, foi arrematado no Ebay pela bagatela de 19 mil dólares há algum tempo. Mas afinal, como funciona essa mania de celebrar aparelhos e jogos antigos?

Tem que ter caixa e manual!O que vai pela cabeça de um colecionador?



Marcelo Tavares começou a colecionar consoles e jogos aos sete anos de idade. “Comecei com um Atari, depois passei para um Dynavision II, um Phantom System, até chegar ao Mega Drive”. O jornalista possui atualmente 206 plataformas diferentes. Entre os itens, aparelhos das primeiras gerações, consoles mais novos — como Super Nes e Mega Drive — e aparelhos da atual geração.
Entre as maiores raridades da coleção, um Microvision (primeiro portátil a utilizar cartuchos da história), um Channel F (primeiro console a utilizar cartuchos), um Vectrex (aparelho com um monitor integrado) e mesmo um exemplar do catastrófico Pippin — a tentativa frustrada da Apple de entrar no mercado de consoles em parceria com a japonesa Bandai.
Mas com 206 consoles em casa, é possível jogar tudo? “Joguei todos eles, praticamente sem exceção, ao menos uma vez. É claro que sempre há aqueles consoles favoritos, e outros que você liga só de vez em quando”. Tavares garante ainda que pelo menos 90% da coleção ainda funciona perfeitamente. “A grande dificuldade é essa, colocar sempre os consoles em funcionamento para que eles preservem o seu bom estado”.

O prazer de se jogar na plataforma original

O que exatamente constitui um item de colecionador? É claro, em primeiro lugar, a idade de um item. Mas um colecionador que se preze normalmente exige alguns requintes a mais. “Eu coleciono de tudo. Acho que o principal é o estado de conservação do item. Um console ou cartucho vale mais quando tem sua caixa e manual. A Label também deve estar intacta, mas o principal é realmente o bom funcionamento”, afirma Tavares.



Só que todo esse preciosismo tem um preço. O jornalista diz que já extrapolou algumas vezes. “É algo muito relativo, depende de quanto eu tenho para gastar. Posso dizer que já passei do limite algumas vezes por causa da paixão pelos games, a tentação por algo mais raro ou que eu ainda não tivesse”.
Mas, caso você esteja pensando em começar a sua própria coleção, saiba que não basta juntar as peças. É bom também saber conservá-las de forma segura. “O principal é ter um local adequado para guardar tudo. Além disso, para a limpeza de cartuchos ou cds, nada de assoprar, somente álcool isopropílico com uma flanela nova. Os fios de controles eu também evito enrolar para não danificar”.



E, na dúvida, nada melhor do que as embalagens originais. “Sempre que posso, procuro preservar o console como novo, com sua caixa, plástico, manuais, etc.”. Afinal, o seu item de colecionador de hoje pode vir a ser trocado por algo ainda mais raro no futuro.
Expandindo a coleção



Quem quiser expandir uma coleção de jogos e consoles antigos deve principalmente estar preparado para gastar alguns tostões, embora só isso não baste. “Muitas coisas você só consegue em viagens ao exterior, outras você adquire de amigos e conhecidos”. Outra dica é ficar ligado nos sites de leilão, onde se pode encontrar muitas raridades dando sopa — embora com preços às vezes tremendamente inflacionados.
Tavares afirma que o melhor é se manter ligado em diversos canais diferentes. “Existem grupos e comunidades em sites de relacionamento em que a troca de informação é constante e sempre aparecem oportunidades. Isso sem contar as feirinhas que rolam em várias cidades e que às vezes reservam boas surpresas”. O evento Brasil Game Show também é uma boa pedida para quem gostaria de expandir a coleção.

O futuro retrôReedições e jogos retrô que fizeram o passado virar presente

Talvez exista um motivo razoavelmente claro para a recente valorização das gerações anteriores de games. Embora as plataformas atuais ostentem jogos cada vez mais polidos e realistas, uma grande parcela das vendas das gigantes do setor vem de jogos retrô. A WiiWare, por exemplo, lucrou no período de 2007 e 2008 aproximadamente US$ 90 milhões.
Nessas redes existem inúmeros jogos verdadeiramente antigos, como o novo-velho Mega Man IX, e outros com cara de antigo, como o hit  Braid, um dos jogos mais vendidos através da Xbox Live durante 2009. Isso para não falar em games como Geometry Wars — um padrão simples até mesmo para os primeiros consoles.

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Para Marcelo Tavares, os jogos antigos distribuídos nas redes online — tais como os jogos simples que se podem encontrar na Game Room, da XBLA — são uma forma simples de relembrar e curtir o passado, embora não substituam a experiência das plataformas originais. “Jogar um Pac-Man no arcade, um Enduro no Atari 260 não tem preço”.
Na mira dos colecionadores

Pelo menos no Brasil, a maior parte dos colecionadores ainda tem plataformas bem específicas em mente.  Por aqui, valem sobretudo os consoles que tiveram maior apelo popular durante as décadas passadas. “Pelo menos no Brasil, games para Mega Drive, NES e Super NES são muito procurados”.

Isso sem se esquecer da febre relativamente recente em torno do Atari 2600 — versão mais comercializada do console em terras tupiniquins. “Muita gente comprou Ataris antigos para colar na sala de casa; os games para Atari também se tornaram muito procurados”, afirma Tavares — que tem uma réplica gigante de um controle de Atari na sala de estar. Isso sem contar um modelo raro com fonte de madeira, um japonês e “meu cartucho Ms. Pac-Man, ainda lacrado de fábrica”.
Pode ser obsoleto, mas não é barato!Velharias que valem muito dinheiro

Cartuchos raros de Atari. Os primeiros consoles que deram as caras. Computadores que ainda utilizavam fitas em rolo para carregar seus programas. São itens velhos, ultrapassados — pelo menos do ponto de vista tecnológico —, mas que hoje mantêm todo um mercado movimentado por alguns dos colecionadores mais empenhados de que se tem conhecimento. Confira uma pequena lista de raridades abaixo.
Stadium Events (Nintendinho): Stadium Events foi lançado pela japonesa Bandai em 1987, um dos poucos jogos lançados para o tapete Family Fun Fitness. Pouco depois, a Nintendo comprou os direitos sobre o tapete, e o jogo passou a se chamar World Class Track Meet. Existem atualmente 20 cópias do original Stadium Events espalhadas pelo mundo, e recentemente uma foi vendida por US$ 41,3 mil.


 

Air Ride (Atari 2600): Trata-se de um jogo pirata para o saudoso Atari 2600 sobre o qual pouco se sabe — nem mesmo a autoria do game é certa. Aliás “Air Ride” é apenas um apelido, já que o nome do jogo não aparece na caixa. Os preços variam de US$ 1 mil e US$ 3 mil.
Chrono Trigger (Super Nes): Uma cópia completa — caixa, manual e label em bom estado — do clássico RPG do Super Nes pode chegar a épicos R$ 500 em alguns sites de leilão.
Atari Cosmos: Trata-se de um protótipo produzido pela Atari que jamais chegou às lojas. A única vez que foi parar no Ebay, acabou gerando uma verdadeira guerra disputada lance a lance. Acabou arrematado por US$ 19 mil.
Microvision: Trata-se do primeiro video game portátil lançado, e um item bastante raro atualmente. Também é difícil encontrar um em perfeito estado de funcionamento, já que a tecnologia LCD das telas era na época (1979) bastante primitiva e pouco duradoura.
Channel F: O Fairchild Channel F foi o primeiro console a utilizar cartuchos da história. Sem dúvida um tremendo salto para a época, já que antes do Channel F para você ter um novo jogo deveria também comprar um novo console. Entretanto, o sucesso do modelo durou apenas um ano, já que Nolan Bushnell entraria em cena com o seu Atari 2600.

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